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Ano de 1993. Um dia comum, ensolarado, na cidade de Itumbiara, no sul e interior de Goiás. Sebastião, mais conhecido como Tião, um caminhoneiro de 32 anos, sai de casa de manhã rumo à casa da mãe, como de costume. Foi caminhando até a casa de dona Tomázia por duas quadras, até a rua de trás, onde ficava estacionado seu caminhão, um Mercedes Benz 1313 alaranjado, companheiro de trabalho, quando não está trabalhando.

No domingo anterior àquela terça-feira aparentemente normal, lavando o caminhão, Tião conheceu o senhor Zico, vizinho de dona Tomázia, pai de duas moças, dois rapazes e Nilva, caçula, de 11 anos. Tião e a caçula nunca haviam se conhecido.

Nilva ia para a escola de ônibus, por volta do meio-dia. Hora em que Tião, na terça-feira, pegou seu caminhão e voltou para casa para almoçar com a esposa e o filho de 3 anos. A escola da menina se localizava na zona rural e o ônibus que a pegara estragou logo na saída para a cidade. Por isso, ela e seus coleguinhas foram todos dispensados naquele dia. Tião esperava em casa seu irmão Mário, de 29 anos, que descia da casa de Tomázia para a sua casa logo após o almoço para acompanhá-lo na viagem para Itabira-MG.

Acidente fatal

Por volta das três horas da tarde daquele dia, Tião e Mário colocaram suas malas na cabine do Mercedes e deram início à viagem. Saindo de casa, andaram seis quadras no asfalto comum rumo ao centro da cidade. O caminhão passava entre dois carros: na esquerda, na contramão, um carro Passat bege estacionado metade em cima da calçada metade na rua, e, do lado direito estacionado um opala caravana branco.

Sem que Tião pudesse notar, Nilva e Elizangela, sua amiga, vizinha e um pouco mais velha, vinham pedalando suas bicicletas atrás do caminhão. O caminhão carregado com 15 toneladas de canjiquinha de milho andava a 15 km/h. Nilva, então, resolveu ultrapassá-lo. Ela entra à esquerda do caminhão e bate no retrovisor do carro que estava estacionado na contramão e cai com a cabeça debaixo do caminhão. O caminhão, de 11 metros de comprimento, 23 toneladas de peso bruto mais carga de milho moído, passa por cima de sua cabeça sem que Tião pudesse perceber, até ouvir o barulho da bicicleta se quebrando no chão.

O motorista olha pelo retrovisor e vê a triste imagem do crânio de Nilva rolar e bater no meio fio. Pasmo, sem entender o que estava acontecendo, imediatamente Tião para o caminhão no meio da rua. Tião e Mário descem do caminhão, e veem o corpo da criança estendido no chão e a amiga ainda em cima da bicicleta, em choque pela cena que acabou de presenciar.

O fato aconteceu em frente à delegacia da mulher e, rapidamente, sai uma mulher e um rapaz para ver o que aconteceu. A mulher buscou um lençol para cobrir o corpo e o rapaz tirou o carro de cima da calçada e foi embora. Tião, em desespero, diz que aquele carro na contra mão provocou uma morte, pois a criança caberia ali se este não estivesse estacionado.

A culpa provavelmente não era de ninguém, mas a terrível morte chocava a todos que queriam uma explicação para o ocorrido. Elizangela se direciona ao motorista e explica, aflita, que disse para Nilva não entrar entre o caminhão e o carro, pois ali não a caberia, Nilva não a ouviu e prosseguiu com a ultrapassagem.

Na ocasião, com oito anos de profissão, Sebastião nunca passou por algo tão trágico, e aquilo lhe marcou profundamente. Os instantes passaram e cada vez mais aglomeravam pessoas, até chegar a polícia, que orientou o motorista a se encaminhar até o quartel da polícia para sua segurança, evitando que alguém chegasse, o agredisse ou fizesse coisa pior. Tião foi encaminhado ao quartel e lá recebeu seu primo Dione, que foi lhe buscar, junto de sua esposa e filho para dormir em sua casa, até o dia seguinte.

Mário ficou no local, aguardou a perícia, Zico e a esposa, que encontraram a infeliz cena da filha caçula sem vida. O acontecido era indescritivelmente triste, mas Zico e a esposa sabiam que o motorista que conhecera no domingo anterior não tinha culpa. Mário levou o caminhão de Tião de volta pra casa. Dione cuidou de toda a parte burocrática e do funeral em nome do caminhoneiro.

No dia seguinte, Tião e a família voltaram pra casa e segue viagem, já que precisava entregar aquela carga, jamais deixando de se questionar do porquê daquilo, por que ele, por que, Nilva. Por que’s que a vida nunca irá responder.

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